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Judeus e Negros (II)
©Jane Bichmacher de Glasman*

Existem diversos grupos de judeus negros.
Convém lembrar que os judeus têm sua origem na Mesopotâmia – e
brancos eles não eram!
Sua organização como povo, com uma religião estruturada, se dá após a
saída do Egito, sob a liderança de Moisés. Durante o êxodo, muitos
egípcios (que são negros) juntaram-se aos judeus, constituindo desde
então parte indelével do povo. A esposa concubina de Abrahão, Hagar,
era egípcia, assim com a esposa de José.
A própria esposa de Moisés, Tsipora (Zéfora), era negra (kushit), como
mencionado no texto bíblico.




Outro destaque bíblico significativo é a Rainha de Sabá, que de sua união com o Rei Salomão deu origem aos
judeus etíopes. O profeta Sofonias também era negro (kushi).
Na África há dois povos muito antigos reconhecidos como judeus: os Falashas e os Lembas1.




Os Lembas fazem circuncisão, casam-se apenas entre si, guardam um dia da semana para orações e não
comem carne de porco ou de hipopótamo, considerado parente do porco. Segundo sua tradição oral, eles
viviam num lugar chamado Sena. Há no Iêmen uma vila com esse nome que até o século X ficava num vale
1
    Ver artigo “Os negros e os judeus”, publicado no Rio Total- Cooljornal, Jornal Alef e AfroPress, em novembro de 2006.
                                                              1
fértil, abastecido por um açude. Quando este secou, a maioria das pessoas partiu. Geneticamente2, os Lembas
são parentes dos Cohanim (família sacerdotal) da tribo israelita de Levi. Os cientistas afirmaram que o
ancestral comum dos Lemba e dos Cohanim viveu entre 2.600 e 3.100 anos atrás. Pela tradição judaica o
período coincide com a vida de Aarão, irmão de Moisés, de quem os Cohanim descendem - provavelmente o
grande pai também dos negros Lemba.
Em aldeias totalmente judaicas, milhares de negros mantiveram sua religião.




Os falashas (nome pejorativo que significa estrangeiro) ou Beta-Israel são totalmente negros como os demais
abissínios. Na Etiópia formavam uma comunidade atrasada e fechada que preservava, intactos, usos e
costumes que remontam a mais de dois milênios, dizendo-se descendentes da tribo perdida de Dan, fundada
por Menelik, filho do rei Salomão com a rainha etíope de Sabá. Foram localizados em meados do século XIX e
só em 1947 os rabinos-chefes de Israel admitiram formalmente serem eles judeus. Em 1860, missionários
britânicos que viajavam pela Etiópia foram os primeiros ocidentais a encontrar a tribo dos falashas. Os
membros dessa comunidade observavam o Shabat, mantinham rígidas leis rituais da forma como eram
descritas na Torá. Pouco tempo depois, o estudioso Joseph Halevy decidiu conhecê-los pessoalmente. Foi
recebido com curiosidade e desconfiança pelos nativos, que lhe perguntavam: O senhor, judeu? Como pode
ser judeu? O senhor é branco! Mas quando Halevy mencionou a palavra Jerusalém, eles se convenceram. Os
falashas haviam sido separados de outros judeus por milhares de anos.




2
  Um teste de DNA feito em 1999 pelo geneticista inglês David Goldstein, da Universidade de Oxford, descobriu que uma
tribo de negros do norte da África do Sul e arredores têm ascendência judaica.
                                                         2
Nenhum deles jamais saíra de seu vilarejo. Viviam na Etiópia até a grande seca de 1985 quando, para salvar-
lhes a vida, Israel montou a operação Moisés para tirá-los secretamente, via aérea, da África e levá-los ao
Estado de Israel. No dia 21 de novembro de 1984 começou esta operação. Em um dado momento, havia 28
aviões no ar. Um dos Jumbos, que normalmente poderia levar 500 passageiros, transportou de uma só vez
1.087 pessoas, num feito anotado no livro de recordes Guinness. Ao longo dos anos, a comunidade de judeus
negros da Etiópia já chegou às 80.000 pessoas em Israel, mas o governo africano ainda retém entre 18 e
26.000 judeus em seu território. Ao chegarem a Israel, os médicos diagnosticaram nos falashas casos
fisiológicos e de nutrição semelhantes aos encontrados nos sobreviventes dos campos de concentração.
Chegaram magros, famintos, sem propriedades.




Hoje eles são parte integrante da sociedade israelense.
Nunca é demais lembrar que Israel foi o único país que retirou negros da África para lhes dar vida, conforto,
estudo, trabalho e dignidade.




Além da África, na Índia há duas comunidades de judeus negros. Os mais conhecidos são os Bene Israel, de
Bombaim. Sua cor é escura e a língua cotidiana é o marata. Sua vida diária pouco difere da população indiana,
exceto quanto à religião. No Sul da Índia, em Cochin, há os judeus totalmente negros como os demais
                                                      3
indianos do sul, cuja língua é o malaiala, idioma falado antes das invasões indo-européias. Remontam suas
origens a uma das 10 tribos de Israel desaparecidas no exílio assírio, embora não comprovado historicamente.




E voltando à África, pelo menos mais três grupos identificam-se como judeus: os Abayudaya de Uganda, os
Ibos da Nigéria e um grupo de Tutsis de Ruanda.
Em Uganda, merece menção especial a comunidade Abayudaya, que foi fundada em 1919 por Semei
Kakungulu. Um tribunal rabínico (beit din), composto por rabinos conservadores, efetuou a “conversão em
massa” dos membros da comunidade Abayudaya em fevereiro de 2002, “legalizando” a situação dos judeus
do Uganda aos olhos da comunidade judaica internacional. Vivem com uma prática rigorosa das leis do
Tanach (Antigo Testamento: Leis, profetas e escritos). Sua população é estimada em cerca de 1.100 pessoas,
mas eram 3.000, antes das perseguições do regime de Idi Amin Dada, entre 1971 e 1979. Dada tornou ilegal a
observância religiosa judaica e deu três alternativas: a conversão ao Islã ou ao cristianismo, abjurar por
completo o judaísmo ou a morte. Enquanto muitos sucumbiram à primeira alternativa convertendo-se, outros
continuaram a celebrar o Shabat e outras mitzvot (preceitos religiosos judaicos) em segredo (!).




                                                      4
Não posso deixar de mencionar ainda a comunidade dos Ibos, judeus da Nigéria. No momento3, existem 26
sinagogas em toda a Nigéria e a comunidade de Hebreus Igbo está estimada em cerca de 40000 pessoas, em
uma população total de 140.000.000 de igbos, yorubás e outros grupos étnicos. Algumas das maiores
comunidades incluem o Instituto Gihon em Abuja, assim como as comunidades do sul, como Port Harcourt. A
Ibo Benei Yisrael atualmente é liderada pelo Rabino conservador Howard Gorin. Através da tradição oral, os
Ibos afirmam serem descendentes diretos de três tribos de Israel: Gade, Zebulun e Manassés. Alguns
sustentam que na comunidade há descendentes de Cohanim e Levitas. Os Ibos (Igbos) são um dos maiores
grupos étnicos na África, cuja maioria da população concentra-se na Nigéria, no sul e no oeste, com cerca de
25 milhões de pessoas. Milhares foram sequestrados para o Brasil durante a escravidão.




3
 Fonte: IGBOS - OS JUDEUS NEGROS NA NIGÉRIA , por Walter Passos.http://cnncba.blogspot.com/2008/10/os-ibos-igbo-
so-um-dos-maiores-grupos.html

                                                       5
Por outro lado, nos Estados Unidos há grupos de negros que praticam o judaísmo e se chamam de "judeus
etíopes". Sua posição é um tanto radical em relação aos judeus brancos.




Não existe razão alguma para que uma pessoa negra não possa ser judia e, de fato, existem milhares de
judeus negros. Há pequenos grupos e congregações de autênticos judeus negros nos EUA, frequentemente
descendentes de conversos, alguns descendentes de imigrantes das índias ocidentais e do Caribe.




                                                     6
Há afrodescendentes americanos famosos no showbizz, conversos assim como filhos de casamentos mistos. O
mais conhecido é Samy Davis Jr. Entre os atuais, Leny Kravitz. Até ao presidente Obama já foi atribuída uma
ascendência judaica...




Outros indivíduos negros têm-se convertido ao judaísmo, como Yitzchak Jordan, hoje o rapper Y-Love, que
mistura versos em inglês, hebraico, árabe e até aramaico e faz rimas do tipo "não vejo judeus balançarem
assim desde o êxodo" (!) - mas também sobre união racial e reconciliação com os palestinos.




Ou Natan Gamedze, neto do rei na Suazilândia, um pequeno país entre Moçambique e África do Sul, que viajava
pelo mundo e aprendia novos idiomas. Um dia se encantou com o hebraico e mudou de vida: foi para Israel,
abriu mão da fortuna da família, se converteu ao judaísmo e é um rabino ortodoxo.




O judaísmo, ao contrário do que afirma a propaganda antissemita, nunca foi racial e existem judeus chineses,
índios, americanos nativos, etc. Os antigos israelitas eram uma população multirracial desde que saíram Egito,
como mencionei.
A primeira rabina negra




                                                       7
Uma menção especial deve ser feita a uma mulher.
Alysa Stanton, de 42 anos, foi a primeira mulher negra no mundo a tornar-se rabina. Recebeu a ordenação
como rabina no dia 6 de junho de 2009 na cidade de Cincinatti (Ohio), nos EUA, e, em agosto, assumiu o posto
de rabina da Congregação Bayt Shalom na cidade de Greenville, na Carolina do Norte, liderando uma
congregação predominantemente branca de 60 famílias.




Stanton nasceu em Cleveland, Ohio, e se mudou para Denver, Colorado, aos 11 anos de idade. Stanton vivia
num subúrbio judaico de Cleveland quando começou a sua busca espiritual, ainda na infância, estudando
algumas religiões cristãs e orientais. Embora tenha sido criada como cristã pentecostal, quando tinha 24 anos,
converteu-se para o Judaísmo. Stanton diz que "nasceu judia, apenas não de um ventre judeu".
Ela é mãe solteira de uma filha de 15 anos, adotada quando tinha 14 meses.
Em sua primeira carreira, Stanton foi psicoterapeuta especializada em dor, perda e trauma, e foi convidada a
falar em Columbine depois do massacre em 1999. Antes de se preparar para o rabinato, ela tentou se tornar
cantora litúrgica, mas ouviu dizer que as posições de liderança judaica não estavam disponíveis para as
mulheres. Quando ela viu uma hazanit, decidiu prosseguir os estudos necessários para se tornar uma rabina.




Stanton chegou a pensar que era "velha" para começar os seus estudos rabínicos aos 38 anos.
Matriculou-se em 2002 no Instituto de Religião Judaica na Faculdade hebraica de Cincinnati, a mais antiga
instituição dos Estados Unidos para formar rabinos, hazanim (cantores litúrgicos) e educadores do Judaísmo
Reformista. Stanton graduou-se no Hebrew Union College, um seminário reformista.
Ela diz que não se preocupa em ser a primeira mulher negra a se tornar uma rabina. "Eu tento não me
concentrar em ser a primeira. Concentro-me em ser a melhor - o melhor ser humano, a melhor rabina que
possa ser." "Se eu fosse a 50.000ª, eu ainda estaria fazendo o que faço... ser a primeira foi apenas sorte."



                                                        8
Desde sua ordenação, Stanton é a rabina da Congregação Bayt Shalom, uma pequena sinagoga de maioria
branca em Greenville, Carolina do Norte.
A comunidade de hebreus em Dimona:
Existe uma diferença entre judeus negros e negros pseudojudeus. Estes últimos são não-judeus que
pretendem passar por judeus. Em particular, há um grupo que se autodenomina os “Israelitas Negros” ou
“Hebreus Etíopes” e outras denominações semelhantes, que são negros não-judeus que se têm inventado
uma história pela que afirmam ter velhas raízes. Alguns dos “Hebreus Negros” dos EUA são cristãos
praticantes, ou mesclam idéias e práticas cristãs com outras religiões, e um dos primeiros desses grupos
(fundado em 1896) chamava-se Igreja de Deus e os Santos de Cristo. As congregações negras de “Observantes
dos Mandamentos” são próximas do judaísmo atual em suas crenças e práticas, embora os seus membros
sejam considerados não-judeus. Alguns desses “Israelitas Negros” são abertamente hostis aos brancos e
afrocentristas (como mencionei anteriormente).




O grupo mais numeroso reside em Chicago, embora alguns dos seus membros tenham imigrado para Israel
nos anos 70. Dimona é o lar de 3.000 Hebreus Negros que começaram a se instalar na cidade no ano de 1969
liderados por Ben Ami Ben-Israel. O fundador do movimento, Ben Ami (nascido Ben Carter), acreditava que os
negros norte-americanos descendiam da tribo israelita perdida de Judá, que migraram para o oeste da África
depois da destruição do Templo Judaico em Jerusalém no ano de 70 a.C. e foram finalmente vendidos como
escravos para os EUA. Em 1966, Ben Ami começou a reunir residentes dos guetos de Chicago e nas
vizinhanças e os liderou até a Libéria, no oeste da África. Eles se mudaram para Israel em 1969 em busca de
um sentido de identidade que não encontraram na América. Ao chegarem, foram enviados para o programa

                                                    9
de moradia em Dimona, um local de adaptação para imigrantes no sul do país. O governo não sabia o que
fazer com os recém-chegados que adotaram nomes hebraicos e um estilo de vestir do oeste da África e não
eram nem judeus nem cristãos.




Apesar do relacionamento inicial com as autoridades israelenses, este foi melhorando, a comunidade
prosperou como um centro de absorção de imigrantes expandido e conquistou invejável reconhecimento.
Os membros, que se referem à sua área como kfar, palavra hebraica para vila, produzem e vendem sorvete de
tofu, cultivam sua própria comida e costuram suas próprias roupas. Os cantores do coral da comunidade
religiosa são procurados para performances. Têm um popular coro de gospel (foi notícia após uma visita de
Whitney Houston). Dois deles fazem parte da banda Eden que representou Israel na maior competição
européia de música, Eurovision, em 2006.




Eles se dirigem um ao outro como santo. Muitos da comunidade dizem que não têm vontade de voltar aos
EUA e que o movimento de libertação negra naquele país não deu certo.
Sua presença em Israel já não é impugnada; eles criaram um kibutz urbano chamado Shomrey Ha'Shalom
(Guardiões da Paz) e receberam um terreno na área de Dimona para melhor atender a comunidade em rápido
crescimento. Um novo ginásio foi construído, ao lado de sua escola, Beit Sefer Ahavah (Escola Amor), com
dinheiro da loteria nacional.




                                                   10
Existe algum movimento no Brasil de hebreus negros?
No mesmo estilo dos hebreus negros norte americanos – felizmente não.
Explico: a base da origem de tais movimentos nos EUA foi a segregação racial explícita (de negros pelos
brancos) e seus membros (negros) são racistas (em relação a brancos). Se aqui – graças a Deus – nunca houve
discriminação racial explícita, isto é, segregação, quanto a preconceito a situação é totalmente diversa – e
lamentável. Sempre houve (e continua havendo) preconceito – seja de cor ou de religião.




Convém destacar dois aspectos sócio-históricos:
Quanto aos judeus no Brasil, embora haja registro de sua presença antes mesmo do descobrimento, sua
“história oficial” é muito recente: com exceção do núcleo judaico no nordeste sob ocupação holandesa, só a
partir da vinda de D. João com a corte imperial, é que começa o início da tolerância a outras religiões que não
a católica em território brasileiro – mais definitiva somente após a Independência e a Constituição4.
O segundo aspecto refere-se aos negros ou afro descendentes brasileiros: até hoje existe uma questão
problemática quanto a assumir a própria cor no Brasil, o que cria disparates como os dados do censo.


4
 Permita-me citar outro artigo meu, “A vinda da corte portuguesa e os judeus do Brasil”: “(...) o artigo XII do tratado de
comércio e navegação entre a Inglaterra e Portugal, de 19 de fevereiro de 1810, estabelecia que “os vassalos de Sua
Majestade Britânica não serão perturbados, inquietados, perseguidos e molestados por causa de sua religião”. Este
decreto nem de longe igualava outras religiões ao catolicismo – as capelas tinham de ser discretas, semelhantes a casas
de habitação, e não se podia fazer uso de sinos. Mas, como foi mais tarde confirmado pela Constituição do Império do
Brasil de 1824, estabeleceu a liberdade religiosa no país, concedendo direitos de cidadania a súditos não-católicos.
                                                           11
Assim, temos uma população “parda”, o que considero tão lamentável quanto a “ eliminação” do mulato por
não ser politicamente correto.




Ora, somos um país de miscigenados - e de sincréticos, quando se trata de religião. Temos judeus negros,
mulatos, cafuzos, mamelucos em todas as tonalidades de pele possíveis.




Mas ainda quanto à referência histórica, é muito importante lembrar que no Brasil, além de negros, os
quilombos reuniam 'bruxas', hereges, ciganos e judeus. Há registros da presença permanente nas aldeias de
mulatos, índios e brancos. A perseguição da época a minorias étnicas, como judeus, mouros e outros, além do
combate às bruxas, heréticos, ladrões e criminosos, explica brancos terem ido viver no quilombo de Palmares.
Zumbi foi o maior líder quilombola e sem dúvida o mais enigmático e místico. Sob seu reinado viveu e lutou o
maior quilombo da história; grande também pela sua face multiétnica, pois em suas fortificações se
refugiaram os escravos foragidos, os judeus perseguidos, os hereges e os índios entre outros, segundo as
últimas descobertas de arqueólogos e etnólogos.




Resumindo: temos um passado comum de lutas contra a discriminação e a perseguição. Passado que tem sido
honrado com o intercâmbio atual entre os diversos grupos étnicos minoritários.
Resumindo: Os judeus eram miscigenados desde sua origem histórica como povo, sempre multirracial. O
judaísmo, ao contrário do que afirma a propaganda antissemita, nunca foi racial e existem judeus chineses,
índios, americanos nativos, etc.


                                                    12
Não há nenhuma razão para que uma pessoa negra não possa ser judia e, de fato, existem milhares de judeus
negros. No Brasil, negros e judeus têm um passado comum de lutas contra a discriminação e a perseguição,
traduzido, no momento atual, por um produtivo intercâmbio!
Jane – judia afro descendente5
Caso queira publicar, o todo ou parte, ou se tiver dúvidas, quiser maiores esclarecimentos, identificar
fontes ou legendas de imagens, por favor, escreva-me! janeglasman@terra.com.br ou janebg@hotmail.com
*Doutora em Língua Hebraica, Literaturas e Cultura Judaica (USP), Professora Adjunta, fundou e coordenou o
Setor de Hebraico e o Programa de Estudos Judaicos (UERJ), Professora e Coordenadora do Setor de Hebraico
UFRJ (aposentada), escritora.




5
    Como todo judeu descendente de egípcios, mesmo que desbotada!

                                                        13

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Judeus e Negros

  • 1. Judeus e Negros (II) ©Jane Bichmacher de Glasman* Existem diversos grupos de judeus negros. Convém lembrar que os judeus têm sua origem na Mesopotâmia – e brancos eles não eram! Sua organização como povo, com uma religião estruturada, se dá após a saída do Egito, sob a liderança de Moisés. Durante o êxodo, muitos egípcios (que são negros) juntaram-se aos judeus, constituindo desde então parte indelével do povo. A esposa concubina de Abrahão, Hagar, era egípcia, assim com a esposa de José. A própria esposa de Moisés, Tsipora (Zéfora), era negra (kushit), como mencionado no texto bíblico. Outro destaque bíblico significativo é a Rainha de Sabá, que de sua união com o Rei Salomão deu origem aos judeus etíopes. O profeta Sofonias também era negro (kushi). Na África há dois povos muito antigos reconhecidos como judeus: os Falashas e os Lembas1. Os Lembas fazem circuncisão, casam-se apenas entre si, guardam um dia da semana para orações e não comem carne de porco ou de hipopótamo, considerado parente do porco. Segundo sua tradição oral, eles viviam num lugar chamado Sena. Há no Iêmen uma vila com esse nome que até o século X ficava num vale 1 Ver artigo “Os negros e os judeus”, publicado no Rio Total- Cooljornal, Jornal Alef e AfroPress, em novembro de 2006. 1
  • 2. fértil, abastecido por um açude. Quando este secou, a maioria das pessoas partiu. Geneticamente2, os Lembas são parentes dos Cohanim (família sacerdotal) da tribo israelita de Levi. Os cientistas afirmaram que o ancestral comum dos Lemba e dos Cohanim viveu entre 2.600 e 3.100 anos atrás. Pela tradição judaica o período coincide com a vida de Aarão, irmão de Moisés, de quem os Cohanim descendem - provavelmente o grande pai também dos negros Lemba. Em aldeias totalmente judaicas, milhares de negros mantiveram sua religião. Os falashas (nome pejorativo que significa estrangeiro) ou Beta-Israel são totalmente negros como os demais abissínios. Na Etiópia formavam uma comunidade atrasada e fechada que preservava, intactos, usos e costumes que remontam a mais de dois milênios, dizendo-se descendentes da tribo perdida de Dan, fundada por Menelik, filho do rei Salomão com a rainha etíope de Sabá. Foram localizados em meados do século XIX e só em 1947 os rabinos-chefes de Israel admitiram formalmente serem eles judeus. Em 1860, missionários britânicos que viajavam pela Etiópia foram os primeiros ocidentais a encontrar a tribo dos falashas. Os membros dessa comunidade observavam o Shabat, mantinham rígidas leis rituais da forma como eram descritas na Torá. Pouco tempo depois, o estudioso Joseph Halevy decidiu conhecê-los pessoalmente. Foi recebido com curiosidade e desconfiança pelos nativos, que lhe perguntavam: O senhor, judeu? Como pode ser judeu? O senhor é branco! Mas quando Halevy mencionou a palavra Jerusalém, eles se convenceram. Os falashas haviam sido separados de outros judeus por milhares de anos. 2 Um teste de DNA feito em 1999 pelo geneticista inglês David Goldstein, da Universidade de Oxford, descobriu que uma tribo de negros do norte da África do Sul e arredores têm ascendência judaica. 2
  • 3. Nenhum deles jamais saíra de seu vilarejo. Viviam na Etiópia até a grande seca de 1985 quando, para salvar- lhes a vida, Israel montou a operação Moisés para tirá-los secretamente, via aérea, da África e levá-los ao Estado de Israel. No dia 21 de novembro de 1984 começou esta operação. Em um dado momento, havia 28 aviões no ar. Um dos Jumbos, que normalmente poderia levar 500 passageiros, transportou de uma só vez 1.087 pessoas, num feito anotado no livro de recordes Guinness. Ao longo dos anos, a comunidade de judeus negros da Etiópia já chegou às 80.000 pessoas em Israel, mas o governo africano ainda retém entre 18 e 26.000 judeus em seu território. Ao chegarem a Israel, os médicos diagnosticaram nos falashas casos fisiológicos e de nutrição semelhantes aos encontrados nos sobreviventes dos campos de concentração. Chegaram magros, famintos, sem propriedades. Hoje eles são parte integrante da sociedade israelense. Nunca é demais lembrar que Israel foi o único país que retirou negros da África para lhes dar vida, conforto, estudo, trabalho e dignidade. Além da África, na Índia há duas comunidades de judeus negros. Os mais conhecidos são os Bene Israel, de Bombaim. Sua cor é escura e a língua cotidiana é o marata. Sua vida diária pouco difere da população indiana, exceto quanto à religião. No Sul da Índia, em Cochin, há os judeus totalmente negros como os demais 3
  • 4. indianos do sul, cuja língua é o malaiala, idioma falado antes das invasões indo-européias. Remontam suas origens a uma das 10 tribos de Israel desaparecidas no exílio assírio, embora não comprovado historicamente. E voltando à África, pelo menos mais três grupos identificam-se como judeus: os Abayudaya de Uganda, os Ibos da Nigéria e um grupo de Tutsis de Ruanda. Em Uganda, merece menção especial a comunidade Abayudaya, que foi fundada em 1919 por Semei Kakungulu. Um tribunal rabínico (beit din), composto por rabinos conservadores, efetuou a “conversão em massa” dos membros da comunidade Abayudaya em fevereiro de 2002, “legalizando” a situação dos judeus do Uganda aos olhos da comunidade judaica internacional. Vivem com uma prática rigorosa das leis do Tanach (Antigo Testamento: Leis, profetas e escritos). Sua população é estimada em cerca de 1.100 pessoas, mas eram 3.000, antes das perseguições do regime de Idi Amin Dada, entre 1971 e 1979. Dada tornou ilegal a observância religiosa judaica e deu três alternativas: a conversão ao Islã ou ao cristianismo, abjurar por completo o judaísmo ou a morte. Enquanto muitos sucumbiram à primeira alternativa convertendo-se, outros continuaram a celebrar o Shabat e outras mitzvot (preceitos religiosos judaicos) em segredo (!). 4
  • 5. Não posso deixar de mencionar ainda a comunidade dos Ibos, judeus da Nigéria. No momento3, existem 26 sinagogas em toda a Nigéria e a comunidade de Hebreus Igbo está estimada em cerca de 40000 pessoas, em uma população total de 140.000.000 de igbos, yorubás e outros grupos étnicos. Algumas das maiores comunidades incluem o Instituto Gihon em Abuja, assim como as comunidades do sul, como Port Harcourt. A Ibo Benei Yisrael atualmente é liderada pelo Rabino conservador Howard Gorin. Através da tradição oral, os Ibos afirmam serem descendentes diretos de três tribos de Israel: Gade, Zebulun e Manassés. Alguns sustentam que na comunidade há descendentes de Cohanim e Levitas. Os Ibos (Igbos) são um dos maiores grupos étnicos na África, cuja maioria da população concentra-se na Nigéria, no sul e no oeste, com cerca de 25 milhões de pessoas. Milhares foram sequestrados para o Brasil durante a escravidão. 3 Fonte: IGBOS - OS JUDEUS NEGROS NA NIGÉRIA , por Walter Passos.http://cnncba.blogspot.com/2008/10/os-ibos-igbo- so-um-dos-maiores-grupos.html 5
  • 6. Por outro lado, nos Estados Unidos há grupos de negros que praticam o judaísmo e se chamam de "judeus etíopes". Sua posição é um tanto radical em relação aos judeus brancos. Não existe razão alguma para que uma pessoa negra não possa ser judia e, de fato, existem milhares de judeus negros. Há pequenos grupos e congregações de autênticos judeus negros nos EUA, frequentemente descendentes de conversos, alguns descendentes de imigrantes das índias ocidentais e do Caribe. 6
  • 7. Há afrodescendentes americanos famosos no showbizz, conversos assim como filhos de casamentos mistos. O mais conhecido é Samy Davis Jr. Entre os atuais, Leny Kravitz. Até ao presidente Obama já foi atribuída uma ascendência judaica... Outros indivíduos negros têm-se convertido ao judaísmo, como Yitzchak Jordan, hoje o rapper Y-Love, que mistura versos em inglês, hebraico, árabe e até aramaico e faz rimas do tipo "não vejo judeus balançarem assim desde o êxodo" (!) - mas também sobre união racial e reconciliação com os palestinos. Ou Natan Gamedze, neto do rei na Suazilândia, um pequeno país entre Moçambique e África do Sul, que viajava pelo mundo e aprendia novos idiomas. Um dia se encantou com o hebraico e mudou de vida: foi para Israel, abriu mão da fortuna da família, se converteu ao judaísmo e é um rabino ortodoxo. O judaísmo, ao contrário do que afirma a propaganda antissemita, nunca foi racial e existem judeus chineses, índios, americanos nativos, etc. Os antigos israelitas eram uma população multirracial desde que saíram Egito, como mencionei. A primeira rabina negra 7
  • 8. Uma menção especial deve ser feita a uma mulher. Alysa Stanton, de 42 anos, foi a primeira mulher negra no mundo a tornar-se rabina. Recebeu a ordenação como rabina no dia 6 de junho de 2009 na cidade de Cincinatti (Ohio), nos EUA, e, em agosto, assumiu o posto de rabina da Congregação Bayt Shalom na cidade de Greenville, na Carolina do Norte, liderando uma congregação predominantemente branca de 60 famílias. Stanton nasceu em Cleveland, Ohio, e se mudou para Denver, Colorado, aos 11 anos de idade. Stanton vivia num subúrbio judaico de Cleveland quando começou a sua busca espiritual, ainda na infância, estudando algumas religiões cristãs e orientais. Embora tenha sido criada como cristã pentecostal, quando tinha 24 anos, converteu-se para o Judaísmo. Stanton diz que "nasceu judia, apenas não de um ventre judeu". Ela é mãe solteira de uma filha de 15 anos, adotada quando tinha 14 meses. Em sua primeira carreira, Stanton foi psicoterapeuta especializada em dor, perda e trauma, e foi convidada a falar em Columbine depois do massacre em 1999. Antes de se preparar para o rabinato, ela tentou se tornar cantora litúrgica, mas ouviu dizer que as posições de liderança judaica não estavam disponíveis para as mulheres. Quando ela viu uma hazanit, decidiu prosseguir os estudos necessários para se tornar uma rabina. Stanton chegou a pensar que era "velha" para começar os seus estudos rabínicos aos 38 anos. Matriculou-se em 2002 no Instituto de Religião Judaica na Faculdade hebraica de Cincinnati, a mais antiga instituição dos Estados Unidos para formar rabinos, hazanim (cantores litúrgicos) e educadores do Judaísmo Reformista. Stanton graduou-se no Hebrew Union College, um seminário reformista. Ela diz que não se preocupa em ser a primeira mulher negra a se tornar uma rabina. "Eu tento não me concentrar em ser a primeira. Concentro-me em ser a melhor - o melhor ser humano, a melhor rabina que possa ser." "Se eu fosse a 50.000ª, eu ainda estaria fazendo o que faço... ser a primeira foi apenas sorte." 8
  • 9. Desde sua ordenação, Stanton é a rabina da Congregação Bayt Shalom, uma pequena sinagoga de maioria branca em Greenville, Carolina do Norte. A comunidade de hebreus em Dimona: Existe uma diferença entre judeus negros e negros pseudojudeus. Estes últimos são não-judeus que pretendem passar por judeus. Em particular, há um grupo que se autodenomina os “Israelitas Negros” ou “Hebreus Etíopes” e outras denominações semelhantes, que são negros não-judeus que se têm inventado uma história pela que afirmam ter velhas raízes. Alguns dos “Hebreus Negros” dos EUA são cristãos praticantes, ou mesclam idéias e práticas cristãs com outras religiões, e um dos primeiros desses grupos (fundado em 1896) chamava-se Igreja de Deus e os Santos de Cristo. As congregações negras de “Observantes dos Mandamentos” são próximas do judaísmo atual em suas crenças e práticas, embora os seus membros sejam considerados não-judeus. Alguns desses “Israelitas Negros” são abertamente hostis aos brancos e afrocentristas (como mencionei anteriormente). O grupo mais numeroso reside em Chicago, embora alguns dos seus membros tenham imigrado para Israel nos anos 70. Dimona é o lar de 3.000 Hebreus Negros que começaram a se instalar na cidade no ano de 1969 liderados por Ben Ami Ben-Israel. O fundador do movimento, Ben Ami (nascido Ben Carter), acreditava que os negros norte-americanos descendiam da tribo israelita perdida de Judá, que migraram para o oeste da África depois da destruição do Templo Judaico em Jerusalém no ano de 70 a.C. e foram finalmente vendidos como escravos para os EUA. Em 1966, Ben Ami começou a reunir residentes dos guetos de Chicago e nas vizinhanças e os liderou até a Libéria, no oeste da África. Eles se mudaram para Israel em 1969 em busca de um sentido de identidade que não encontraram na América. Ao chegarem, foram enviados para o programa 9
  • 10. de moradia em Dimona, um local de adaptação para imigrantes no sul do país. O governo não sabia o que fazer com os recém-chegados que adotaram nomes hebraicos e um estilo de vestir do oeste da África e não eram nem judeus nem cristãos. Apesar do relacionamento inicial com as autoridades israelenses, este foi melhorando, a comunidade prosperou como um centro de absorção de imigrantes expandido e conquistou invejável reconhecimento. Os membros, que se referem à sua área como kfar, palavra hebraica para vila, produzem e vendem sorvete de tofu, cultivam sua própria comida e costuram suas próprias roupas. Os cantores do coral da comunidade religiosa são procurados para performances. Têm um popular coro de gospel (foi notícia após uma visita de Whitney Houston). Dois deles fazem parte da banda Eden que representou Israel na maior competição européia de música, Eurovision, em 2006. Eles se dirigem um ao outro como santo. Muitos da comunidade dizem que não têm vontade de voltar aos EUA e que o movimento de libertação negra naquele país não deu certo. Sua presença em Israel já não é impugnada; eles criaram um kibutz urbano chamado Shomrey Ha'Shalom (Guardiões da Paz) e receberam um terreno na área de Dimona para melhor atender a comunidade em rápido crescimento. Um novo ginásio foi construído, ao lado de sua escola, Beit Sefer Ahavah (Escola Amor), com dinheiro da loteria nacional. 10
  • 11. Existe algum movimento no Brasil de hebreus negros? No mesmo estilo dos hebreus negros norte americanos – felizmente não. Explico: a base da origem de tais movimentos nos EUA foi a segregação racial explícita (de negros pelos brancos) e seus membros (negros) são racistas (em relação a brancos). Se aqui – graças a Deus – nunca houve discriminação racial explícita, isto é, segregação, quanto a preconceito a situação é totalmente diversa – e lamentável. Sempre houve (e continua havendo) preconceito – seja de cor ou de religião. Convém destacar dois aspectos sócio-históricos: Quanto aos judeus no Brasil, embora haja registro de sua presença antes mesmo do descobrimento, sua “história oficial” é muito recente: com exceção do núcleo judaico no nordeste sob ocupação holandesa, só a partir da vinda de D. João com a corte imperial, é que começa o início da tolerância a outras religiões que não a católica em território brasileiro – mais definitiva somente após a Independência e a Constituição4. O segundo aspecto refere-se aos negros ou afro descendentes brasileiros: até hoje existe uma questão problemática quanto a assumir a própria cor no Brasil, o que cria disparates como os dados do censo. 4 Permita-me citar outro artigo meu, “A vinda da corte portuguesa e os judeus do Brasil”: “(...) o artigo XII do tratado de comércio e navegação entre a Inglaterra e Portugal, de 19 de fevereiro de 1810, estabelecia que “os vassalos de Sua Majestade Britânica não serão perturbados, inquietados, perseguidos e molestados por causa de sua religião”. Este decreto nem de longe igualava outras religiões ao catolicismo – as capelas tinham de ser discretas, semelhantes a casas de habitação, e não se podia fazer uso de sinos. Mas, como foi mais tarde confirmado pela Constituição do Império do Brasil de 1824, estabeleceu a liberdade religiosa no país, concedendo direitos de cidadania a súditos não-católicos. 11
  • 12. Assim, temos uma população “parda”, o que considero tão lamentável quanto a “ eliminação” do mulato por não ser politicamente correto. Ora, somos um país de miscigenados - e de sincréticos, quando se trata de religião. Temos judeus negros, mulatos, cafuzos, mamelucos em todas as tonalidades de pele possíveis. Mas ainda quanto à referência histórica, é muito importante lembrar que no Brasil, além de negros, os quilombos reuniam 'bruxas', hereges, ciganos e judeus. Há registros da presença permanente nas aldeias de mulatos, índios e brancos. A perseguição da época a minorias étnicas, como judeus, mouros e outros, além do combate às bruxas, heréticos, ladrões e criminosos, explica brancos terem ido viver no quilombo de Palmares. Zumbi foi o maior líder quilombola e sem dúvida o mais enigmático e místico. Sob seu reinado viveu e lutou o maior quilombo da história; grande também pela sua face multiétnica, pois em suas fortificações se refugiaram os escravos foragidos, os judeus perseguidos, os hereges e os índios entre outros, segundo as últimas descobertas de arqueólogos e etnólogos. Resumindo: temos um passado comum de lutas contra a discriminação e a perseguição. Passado que tem sido honrado com o intercâmbio atual entre os diversos grupos étnicos minoritários. Resumindo: Os judeus eram miscigenados desde sua origem histórica como povo, sempre multirracial. O judaísmo, ao contrário do que afirma a propaganda antissemita, nunca foi racial e existem judeus chineses, índios, americanos nativos, etc. 12
  • 13. Não há nenhuma razão para que uma pessoa negra não possa ser judia e, de fato, existem milhares de judeus negros. No Brasil, negros e judeus têm um passado comum de lutas contra a discriminação e a perseguição, traduzido, no momento atual, por um produtivo intercâmbio! Jane – judia afro descendente5 Caso queira publicar, o todo ou parte, ou se tiver dúvidas, quiser maiores esclarecimentos, identificar fontes ou legendas de imagens, por favor, escreva-me! janeglasman@terra.com.br ou janebg@hotmail.com *Doutora em Língua Hebraica, Literaturas e Cultura Judaica (USP), Professora Adjunta, fundou e coordenou o Setor de Hebraico e o Programa de Estudos Judaicos (UERJ), Professora e Coordenadora do Setor de Hebraico UFRJ (aposentada), escritora. 5 Como todo judeu descendente de egípcios, mesmo que desbotada! 13